domingo, 18 de novembro de 2012

Carona, Solidária ou Filantrópica.

Créditos Autorais 
Texto: Wilson Menezes
Imagem: Google



Aumentam a cada dia as discussões sobre a sustentabilidade do planeta e a mobilidade urbana nos grandes centros urbanos. Todos estão em busca de soluções para essas duas questões emergentes do modo de vida da sociedade contemporânea. São problemas imbricados e alimentados pelo mesmo sistema capitalista que estimula o consumo de bens e serviços. 

Nesta grande arena de discussões, muitas são as alternativas apontadas como solução ou elementos mitigadores para a falta de mobilidade e para a promoção da sustentabilidade. Contudo, neste cenário, existem vários lados e diversos agentes e entidades que defendem os seus próprios interesses. Por esta razão, dificilmente, chegaremos a um consenso isento de interesses individuais.

Enquanto não chegamos a uma solução relacionada a esses temas capaz de contemplar a sociedade em escala macro, algumas pessoas ou grupos de pessoas tentam, com mudança de atitude, contribuir para minimizar as consequências da automação das ações cotidianas da sociedade contemporânea.

A carona solidária é uma dessas atitudes pontuais que surgem como alternativa sustentável para o uso do automóvel individual nas grandes cidades. A carona solidária, sem dúvida, traz benefícios em cadeia, pois, considerando que a maioria dos veículos individuais tem capacidade para cinco pessoas, ela pode tirar de circulação até quatro carros individuais em um grupo de cinco pessoas que participem da carona. Pode ainda disponibilizar vagas no transporte público.

Mas será que a cultura brasileira de só levar-querer-evar-vantagem permitirá a prática da carona solidária com equidade de benefícios para os participantes?    


Há pelo menos dois modelos de carona solidária. Um consiste na associação de um grupo com até cinco pessoas com veículos próprios cujos itinerários sejam parecidos e que trabalhem, estudem ou exerçam atividades na mesma instituição ou em outras próximas. Cada pessoa fica com a obrigação de ir com seu carro e de dar carona às pessoas do grupo uma vez em cada ciclo de cinco dias, ou seja, durante quatro dias, quatro pessoas deixarão os seus carros em casa e irão e voltarão de carona.    

O segundo modelo é semelhante ao primeiro, porém apenas uma pessoa possui carro e as outras pessoas usariam o transporte público caso não tivessem a carona. Nesse caso, salvo um acordo prévio, a pessoa que tem o carro não teria obrigação de dar a carona às outras pessoas, se não achasse conveniente.

No primeiro tipo de carona solidária os benefícios individuais são bem equacionados entre os membros do grupo. Em razão da lógica de funcionamento, não há necessidade de nenhum repasse financeiro entre as pessoas para compensação de gasto. O ponto chave deve ser a responsabilidade e comprometimento de todos do grupo.

Contudo, no segundo modelo, há muitos pontos frágeis na lógica de funcionamento, pois todo gasto cairá sobre o membro que possui o carro e esses gastos nem sempre são redistribuídos no grupo. No quesito consumo de combustível e desgaste de componentes, os veículos se comportam de forma variada, mas, geralmente, quanto mais ocupantes, maior é o consumo e o desgaste. Entretanto, também não é muito fácil mensurar esses desgaste e consumo provocado pela sobrecarga a mais ou a menos. Sendo assim, essa forma de carona solidária é mais difícil de acontece e, quando acontece, não é muito promissora, pois a equidade de benefícios não é proporcional entre os participantes.  

Há sempre alternativas em prol da sustentabilidade do Planeta, a carona solidária é apenas uma delas. Independente do modelo da carona, o importante é que cada participante saiba que todos devem se beneficiar com a carona solidária de forma mais igualitária possível. Todos devem fazer a sua parte, mas ninguém é obrigado a se sacrificar, sozinho, por um problema que pertence a todos. Desse modo, a carona será realmente solidária e não filantrópica.   
   

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